Viagem boa é aquela que muda as nossas referências, né? Em 2017, nós decidimos explorar alguns destinos pouco conhecidos do litoral nordestino. A nossa ideia era conhecer lugares sem muita informação na internet, viver uma experiência de descoberta mesmo. No final do ano, fizemos um balanço e acreditávamos que já havíamos conhecido os lugares mais inóspitos do litoral do Rio Grande do Norte, estado que escolhemos para desbravar. Entretanto, a nossa surpresa ainda estava por vir. Galinhos, uma península a mais ou menos 160km de Natal, mudou a nossa concepção de paraíso pouco explorado.
Por lá não tem badalação nem muitos restaurantes “tem que ir”. As pousadas você conta nos dedos, assim como os lugares para comer. O negócio é viver a vida pé na areia mesmo, sentar na beira da praia, escutar o barulho do mar e conversar com a população nativa. O lugar é tão reservado que, segundo os locais, só tem duas épocas do ano em que lota: Réveillon e Carnaval. Exceto nessas datas, Galinhos parece um oásis no meio do cada vez mais cheio litoral nordestino. Se você quer um lugar para descansar, ligar o modo offline e se reconectar consigo, vá para Galinhos.
Como chegar
O acesso para Galinhos é apenas de barco. Saindo de Natal, você pegará a BR-406 e depois RN-402, nas proximidades da cidade de Jandaíra. De lá, uma dica importante é desligar o GPS. Não sabemos exatamente o porquê, mas se você seguir os aplicativos irá parar no meio de um canavial. Então, é melhor seguir as poucas placas indicativas. Siga direto pela RN-402 até um trevo e vire à esquerda. Você começará a se encantar daí, já que a estrada fica no meio de viveiros de camarão, então a água chega pertinho do asfalto. No final dela haverá um estacionamento, o Pratagil.
O carro pode ficar lá, há gente para ficar observando e você não precisa pagar nada. No pier, haverá barqueiros esperando para fazer a travessia. Geralmente, eles saem a cada meia hora, mas você pode negociar e sair antes. O valor da nossa travessia na ida foi de R$ 10 por pessoa. Na volta, quando estávamos em um barco cheio foi R$ 3,50.
“Uberjegue”
Quando você descer na península de Galinhos, haverá várias charretes cujos condutores denominam “Uberjegue” para te conduzir até a pousada. Se você estiver com mala, vale a pena. Mas, se estiver com uma mochila, é melhor ir andando mesmo. O vilarejo é pequeno, dá para fazer tudo a pé. Nós acabamos pegando a charrete por R$ 10, já que a nossa pousada era a única localizada na área que fica em frente ao mar, e passamos por uma situação curiosa e escatológica.
O jegue começou a fazer cocô quando estava conosco. O motorista botou um balde e seguiu viagem, mesmo com a infinidade de moscas que se aproximaram e com o cheiro nada agradável. Depois, ele parou em uma esquina e jogou o lixo. Segundo ele, é normal que isso aconteça, já que os animais são alimentados com ração por lá. Bom, nós ficamos observando e não vimos acontecer com mais ninguém…
O que fazer
Ir até o farol
O farol é a principal atração de Galinhos, acredite. É uma construção de 1931, que foi revitalizada recentemente. É lá onde a depender da época do ano o sol se põe de uma maneira magistral. É lá também onde se formam algumas piscinas com a água do mar. A maioria das charretes oferecem um passeio até lá, que é feito por alguns grupos de turistas que chegam para passar o dia na península. Custa R$ 30, ida e volta. Outra maneira de chegar lá é com o passeio de buggy, que custa mais caro. A melhor maneira de chegar lá, na nossa opinião, entretanto, é ir andando mesmo. A distância é curta do centro, no máximo uns 2km. E você acaba parando para observar as casas, o trecho de mar e passando mais tempo no próprio farol.
Ir até Galos
Galos é outro vilarejo que fica na península, menor ainda que Galinhos e distante uns 5km. Lá têm mais uma duas pousadas, além de um restaurante self-service (Irene), conhecido entre os grupos que chegam para passar o dia. Se Galinhos já é tranquilo, imagina Galos? É um poço de silêncio. Nós paramos por lá durante um passeio de barco, apenas para conhecer, e descobrirmos que a grande atração local é o povo mesmo. São pessoas boas de conversa, dispostas a fazer amizade e encantar os turistas. Nós conhecemos um menino bem simpático, daqueles bons de lábia, que nos levou para dar uma giro no vilarejo e, ao final, de tão apaixonados que estávamos por ele acabamos comprando os artesanatos feitos pela mãe dele – que negamos de pronto ao chegar.
Detalhe: em Galinhos, a água é salobra. Até para escovar os dentes e tomar banho é preciso enfrentar essa realidade. Nada que seja difícil se a ideia é mesmo se desprender. Já em Galos, você não terá o mesmo problema, dizem os locais. Lá a água é um pouco melhor.
Fazer o passeio de Barco com Júnior Tubarão
Além da beleza natural, a grande atração de Galinhos é realmente a sua população. Isso ficou muito claro para a gente depois de fazer um passeio com o Júnior Tubarão, um nativo figura que é quase um empreendedor do sucesso crescente da península. Júnior é um apaixonado pela natureza e pelo mangue, que nas horas vagas faz trabalhos de conscientização ambiental com as crianças locais, e nas horas de trabalho vive para fazer os turistas se apaixonarem pela sua terra.
Ele faz um passeio diferenciado no seu barco, denominado Camaro Amarelo. Oferece cervejas a parte, além de um cardápio luxuoso para o que encontramos na região, com direito a ostras, sashimi no molho de abacaxi, peixe frito. Tudo uma delícia. O passeio custou R$ 270 (o casal). Se você fecha um pacote com Júnior, não importa se você está só ou em um grupo de 10 pessoas, o percurso será feito só com vocês. Nada de desconhecidos, segundo ele para proporcionar uma melhor experiência.
O barco sai pela manhã, por volta das 9h, do pier de Galinhos. Júnior percorre o braço de mar conosco, apresentando a Ilha das Cobras, a Duna do André e depois faz uma pausa numa salineira. Galinhos fica numa região de produção de sal. Do mar de lá saem em média 73 toneladas de sal por mês, acredite. O material vai direto para a Europa, onde é vendido. Da salineira, voltamos para a melhor parte da viagem com o Júnior. Ele nos leva para um viveiro natural de ostras, para o barco e começa a catar as conchas. Recolhe mais ou menos um balde, que servirá para o nosso almoço.
Em seguida, depois de acompanharmos a caçada às ostras, seguimos para a Duna, na Praia do Capim, onde é servido o almoço. O passeio ainda contempla uma visita à área de mangue da região, onde Júnior pega algumas espécies como estrela do mar, cavalo marinho e alguns caranguejos.
Duna do André
Esse lugar não estará nas listas do que fazer em Galinhos que você encontra por aí, foi uma dica que nos foi dada pelos locais. É uma duna localizada entre Galinhos e Galos, que você só consegue chegar em carros 4×4 ou buggy, por isso nunca está lotada. Apesar do vento forte que incide por lá, assim como toda a região, é um lugar perfeito para levar umas cadeiras e acompanhar o pôr do sol. De lá de cima você tem a vista para o vilarejo e o braço de mar. Em algumas época do ano, o sol se põe exatamente no meio da divisão entre o continente e a península, um espetáculo da natureza.
Onde ficar
Existem duas opções para quem deseja conhecer a região. Uma delas é ficar de frente para o braço de mar. A maioria das pousadas fica nessa área da península, perto do pequeno porto que recebe os turistas. Outra opção é ficar em frente ao mar mesmo. Foi a que escolhemos. Nos hospedamos na pousada Brésil Aventure, pois já tínhamos conhecido os donos durante a nossa passagem por Sagi e ficamos interessados.
É uma pousada literalmente pé na areia, com vários quartos com varanda de frente para o mar. Você sai de onde está hospedado e, ao abrir uma pequena porta pequena, já está com os pés na areia. Nós ficamos no novo quarto deles, o Bahia, uma suíte master bem confortável, que tem uma cama de casal e uma de solteiro. O legal de lá é a porta que também funciona como janela. Ela tem umas aberturas que permitem acordar e ficar admirando a paisagem sem nem sair da cama. A Brésil também é legal para o fim de tarde. Lá eles tem um lounge com várias redes, cadeiras e espreguiçadeiras de frente para o local onde o sol se põe. Você pede uma cerveja, um petisco e vai ser feliz. Ah, essa última parte é aberta a não hóspedes.
Foi o dono da Brésil que criou inclusive a logo turística da cidade. Para o Evandro, Galinhos tem o mesmo potencial de Jericoacoara, no Ceará. Há quem garanta que ele não está errado!
Onde comer
Como já dissemos acima, Galinhos não tem muita opção de restaurante. Há basicamente os das próprias pousadas, uma pizzaria e três de frutos do mar. Vale a pena ficar variando entre eles, conhecer o Nativus, na beira-mar também, assim como Pizzaria do Farol – só pela arquitetura que remete a um bar de reggae que parece ter sido transformado às pressas em pizzaria.
A grande experiência gastronômica local fica por conta do restaurante Frutos do Mar. São três ou quatro mesas colocadas no terraço de uma família singular, com decoração bem rústica e cardápio enxuto. As honras são feitas pelo próprio dono, o marqueteiro político Loro, que vem até a mesa, apresenta o cardápio de uma forma única, conversa sobre suas habilidades de locução e porque abandonou o posto de garoto propaganda de um comércio natalense para o qual emprestou o rosto por mais de 20 anos. Loro tira onda da própria família, brinca com as filhas e, da mesma forma, com os visitantes. Nos sentimos quase como convidados.
Lá nós comemos uma moqueca maravilhosa, que obviamente é apresentada de um jeito bem particular. Segundo Loro, as regras da casa mandam rezar uma espécie de saravá em cima do prato, que termina de forma divina com um grito do próprio “Fora Temer”. É de comer com satisfação!
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