Antiga Bizâncio, colônia grega sete séculos antes de Cristo; ex-Constantinopla, sede do Império Romano; palco, há 565 anos, do episódio que marcou o fim da Idade Média. São muitos os fatos históricos sob os ombros de Istambul, a maior cidade da Turquia. Meio Ásia meio Europa, entre a tradição do oriente e a ânsia de novidades do ocidente, Istambul resiste milenar renovando seu fascínio. Com mais de 13 milhões de habitantes, é um roteiro ao mesmo tempo exótico e fundamental para entender as heranças deixadas por parte das civilizações humanas passadas.
Epicentro das grandes transações comerciais de outrora, Istambul é movimento. Pessoas indo e vindo a todo momento, ruas cheias, comércio efervescente e noite agitada. É caótica como qualquer metrópole, com trânsito conturbado e motoristas dispostos a entrar em confusão pelo mínimo estranhamento. Por outro lado, é sagrada. Lar de uma população 99% muçulmana, que olha o horizonte e sempre encontra um minarete anunciando a hora da oração, nas mais de 3 mil mesquitas espalhadas pela cidade.
Exuberante, Istambul surpreende pela beleza. E também causa estranhamento aos olhos acostumados aos ritos e gostos ocidentalizados. Requer alerta das mulheres, que nem sempre se sentem à vontade em caminhar sozinhas pelas suas ruas e, por vezes, são assediadas. Mas também não assusta. Está mais para um estado perene de deslumbramento.
Grand Bazaar
Quarenta e noves anos antes de o Brasil ser encontrado pelos portugueses, o Grand Bazaar surgia em Istambul. Com cerca de 4 mil lojas, divididas entre mais de 60 corredores, esse grande mercado aberto transpira a alma turca. Não há como passar por Istambul sem visitá-lo. Localizado no distrito de Fatih, o Grand Bazaar é um dos centros comerciais mais antigos do mundo e já foi o mais importante do mediterrâneo. Lá dentro, dá para encontrar de tudo: lenços, luminárias, souvenirs, especiarias, roupas. Por dia, passam mais de 400 mil pessoas pelo local. É uma experiência e tanto se perder pelos corredores, entrar nas lojas, provar os lenços e comer os diversos tipos de manjar turco (sobremesa doce deliciosa, citada até em um dos filmes de As Crônicas de Nárnia). Mais ainda, negociar com os ávidos comerciantes turcos. Não deixe de pechinchar, eles ficam até tristes quando o cliente aceita o preço de primeira.
Hagia Sophia
Um lugar que, ao mesmo tempo, guarda resquícios da fé islâmica e cristã. A Hagia Sophia já foi mesquita e também basílica. Construída durante o Império Bizantino para ser a catedral de Constantinopla, entre 532 e 537, a Hagia foi durante um século a maior catedral do mundo. Em 1453, foi transformada em mesquita muçulmana. Já em 1931, encerrou suas funções religiosas e transformou-se em um museu. É um dos atrativos mais icônicos e imponentes de Istambul.
Mesquita Azul
A mesquita azul, com seus seis minaretes, fruto dos sonhos do sultão Ahmet. Construída no início dos anos de 1600, para competir com a Hagia Sophia, a mesquita é decorada com 20 mil azulejos e tem 260 janelas. A visitação é permitida e gratuita, desde que sejam cumpridas regras básicas. Nada de entrar com roupas que mostrem parte do corpo, como bermudas e blusas de alça. Mulheres precisam levar um lenço que cubra o cabelo (o local disponibiliza lenço e uma espécie de saia longa, para as esquecidas). Para entrar, também é preciso retirar os sapatos e colocá-los em um saco. Os únicos horários em que é proibida a entrada são os das cinco orações diárias previstas no islamismo.
Cisterna da Basílica
Não tão famosa quanto as outras atrações, mas igualmente imperdível é a Cisterna da Basílica, uma construção subterrânea bizantina, erguida a mando do imperador Justiniano, para armazenar água. Tem 140 metros de comprimento e 70 de largura, capazes de guardar mais de 100 milhões de litros d’água. Descer as escadas rumo ao submundo escuro da cisterna é ser transportada para o passado imediatamente.
Hipódromo
Próximo à Hagia Sophia e também à Mesquita Azul, está o hipódromo. Um espaço que hoje é uma praça e foi uma das obras mais importantes da época do imperador Septimus Severus. Construído com capacidade para 100 mil pessoas, foi cenário das corridas de bigas e destruído durante as batalhas da quarta cruzada.
Passeio de barco no Bósforo
Um fim de dia perfeito em Istambul pede um passeio de barco pelo Estreito de Bósforo. Da ligação entre os mares Negro e de Mármara, que faz a divisão entre os continentes Europeu e Asiático, a cidade se apresenta sob outra perspectiva. Navegando durante uma hora e meia, o tempo médio do passeio que começa no braço de mar conhecido como Chifre de Ouro, o turista consegue perceber a diferença arquitetônica entre os dois lados continentais e tem uma visão singular de ruínas, palácios otomanos e mesquitas erguidos às margens dos mares. No fim da tarde, o pôr do sol é quase uma súplica irrecusável da cidade para ganhar o coração do visitante.
*A repórter viajou a convite da Obra de Maria
**Texto originalmente publicado em Diario de Pernambuco