Alice
Quando eu era muito pequena, tinha um sonho recorrente. Sonhava ter nascido em todos os lugares do mundo ao mesmo tempo. Uma vida em cada canto, uma história em cada cidade. O mais curioso disso é que, ao invés de me causar estranhamento, aqueles delírios infantis me deixavam em estado de fascinação. Por que isso não era possível? E se fosse? Quanto mais aqueles sonhos vinham, mais se introjetavam na realidade. Até chegar o dia em que eu já não conseguia distinguir as criações do inconsciente com os meus desejos mais reais. Não demorou muito até eu perceber, aquilo jamais seria factível. Pelo menos, daquela maneira. Nascer, no gesto nu e cru de retirar um filho do ventre materno. Quase concomitante a essa constatação, veio a descoberta: viagens são as minhas chances de renascer em qualquer lugar.
Ser apresentada a um novo horizonte é como abrir as páginas de um livro nunca lido. Cada passo ou passar das folhas de papel, é uma imersão em outro mundo. Os personagens, o contexto, o cenário, o enredo. Os habitantes locais, o momento, a paisagem, o roteiro. A máxima de que você nunca será o mesmo depois de terminar a leitura de uma publicação é igualmente perfeita para o que acontece comigo após de uma viagem. Pelos encontros, aventuras, sabores, até pela saudade e nostalgia, viajar é me transformar. É a morte necessária de algumas certezas e hábitos para o (re)nascimento de um novo ser. Para mim, é mais do que dar check no mapa mundi. É a oportunidade de reencontrar em cada lugar do globo o pedaço de mim que deixei nos meus sonhos de criança.
Felipe
Felipe na Feira de Mataderos – ARG
Confesso que o desejo de viajar não é tão antigo quanto aparenta ser. Talvez eu achasse que teria tempo em algum “depois” que eu não me preocupava. Esse depois chegou. Não lembro mais de como era a vida sem a sensação de descobrir um luga novo, fazer coisas que não estão no seu dia a dia, conhecer gente nova… O fato de sempre se querer ir a algum lugar, mesmo quando você acha que o último destino foi o melhor de todos é algo que move. Me move. O mundo é grande demais para se dizer algo como “Tá bom de viajar. Já conheci tudo”. Não existe isso. Não mesmo.
Viajar para mim é você ir pra um lugar que mal ouviu falar e voltar com a sensação que passaria muito mais tempo por lá. É conhecer coisas que você só escutava falar e poder confrontar todas as suas imagens criadas com a realidade e se surpreender. E não, não tem essa de “eu já vi por foto, é a mesma coisa”. Estar em um lugar diferente se tornou algo tão necessário que é estranho não ter uma viagem marcada, mesmo que seja para um lugar próximo. Uma viagem, começando desde o planejamento, controle de gastos, hospedagem, transporte é algo que dá trabalho, mas que é recompensado no final. E quem sempre pára nessa parte “chata” de viajar nunca vai experimentar a sensação que isso traz. E vá por mim que vale a pena. Se vale!