O paraíso chamado Lençóis Maranhenses

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O esforço grande começa ainda na capital. São horas de estrada até se aproximar dos povoados e cidadelas margeantes da imensidão de areia, água e céu. Depois é preciso acordar cedo. Ninguém te diz, mas a disposição é item fundamental para conhecer um dos lugares mais lindos do Brasil. Você fecha o passeio em agências meio precárias e segue em carros que mais parecem paus de arara. A trilha mais longa e, consequentemente, mais arrebatadora requer 18 km sentados em bancos mal acolchoados. O chacoalhar vem de brinde. O veículo balança para um lado e para o outro vencendo a terra, os galhos batem nas laterais e, vez ou outra, também no seu rosto. O tempo passa, pega a balsa, sobe, desce e continua o bamboleio. As casas ficam para trás e para frente só mato e areia. A exaustão chega, o sol queima a moleira e a vontade de desistir tá ali, esperando o vacilo.

De repente, o guia anuncia: “estamos nos aproximando”. Paramos em um entrecorte de mato e somos convidados a tomar água e provar iguarias locais. Mas… Cadê os lençóis? Estão bem ali, depois daquela subida de 40 metros em areia fofa, cujo único apoio é uma fina corda. A vontade de desistir vai vir novamente e, mais uma vez, na metade do caminho. A nossa primeira dica é: apenas siga em frente. Lá em cima, olhe primeiro para trás. A cidade vai estar distante, e a imensidão verde vai te deixar boquiaberto (a). Respire fundo, puxe o ar e então vire as costas para as árvores. Poucas vezes na vida você terá emoção parecida com a chegada ao circuito da Lagoa Bonita dos Lençóis Maranhenses.

O horizonte de dunas brancas, com a areia escorrendo entre seus pés e os vácuos tomados por lagoas de águas límpidas é um verdadeiro deleite aos olhos. Não dá vontade de sair de lá. Para te ajudar a sentir essa mesma emoção, fizemos um guia rápido de como chegar ao parque nacional dos lençóis, qual a melhor época do ano para ir, o que levar e a média de gastos.

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Como chegar

Existem diversos traslados entre São Luís e Barreirinhas, a maior cidade nas proximidades dos Lençóis e por isso também a mais visitada. Uma das opções é chegar ao aeroporto, nas primeiras horas da manhã, e tentar contratar o passeio na hora. Há diversas vans que fazem o percurso, a um preço médio de R$ 60 reais por passageiro. Elas saem geralmente às 5h. Nós recomendamos, para quem pretende sair essa hora, o Jorge (98) 99213.1779. Caso você pretenda sair à tarde, o nosso caso, indicamos a van do Raimundo Rocha (98) 98819.2804. Chegamos ao Raimundo através do Jorge. Na época, ele foi o único a fazer a viagem nesse horário vespertino. O valor foi idêntico. A nossa única ponderação é quanto à pontualidade. Não sabemos se foi azar de ter um protesto no dia, mas marcamos com ele para nos buscar no hotel às 13h30. Ele só chegou às 15h. De van, o tempo médio entre São Luís e Barreirinhas é de 4h.

Outra opçao é de ir de táxi. Checamos para vocês e o valor médio é de R$ 250 a corrida. Ou ainda contratar um carro particular. Nossa recomendação é o Sousa. Ele é um senhor bem simpático, que nos levou no retorno a São Luís, um translado organizado pela agência que contratamos os passeios em Barreirinhas. Dividimos o veículo com outro casal, de Belém. O retorno também foi à tarde e durou uma média de 3h30. O telefone dele é (98) 99172.3554 / 98856.3766.

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O que fazer

Reserve pelo menos dois dias para visitar os Lençóis. Com esse tempo, dá para conhecer o básico e ficar com vontade de voltar. Chegamos em Barreirinhas numa sexta-feira à noite. Fechamos o passeio antes de chegar à pousada, com uma agência de uns amigos do Raimundo. Eles nós recomendaram fazer o passeio da trilha da Lagoa Azul pela manhã e, à tarde, fazer o circuito da Lagoa Bonita. Este por último para incluir um pôr do sol incrível. Tem gente que não aguenta, pela disposição física, pois você anda bastante nos dois trajetos. Se esse for o seu caso, retorne à pousada e desfrute do Rio Preguiças ou faça o passeio do bóia cross (uma descida de bóia pelo rio).

No dia seguinte, fizemos o passeio pelo Rio Preguiças, descendo 40 km de barco. Ao fim do dia, retornamos rapidamente à pousada, para tomar banho, e pegamos o carro de volta. Não se preocupe, as agências locais fazem a programação exata para dar tempo de pegar o translado de retorno à capital maranhense.

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Circuito Lagoa Azul

Esse é um circuito menor, no qual o turista atravessa o rio de balsa e segue por 12 km de jardineira até as dunas. Você desce em uma planície e segue andando até as primeiras lagoas. Por incrível que pareça, a lagoa mais bonita não é a Azul, mas a dos Toyoteiros, a primeira do percurso. É a de águas mais claras e a maior. Isso ocorre porque o desenho é feito pelo movimento da areia e pela intensidade do período chuvoso. Tem lagoas, antes famosas, que já não apresentam a exuberâncias de outrora. Ou seja, daqui a alguns anos, provavelmente as lagoas visitadas serão outras. Nesse circuito, conhecemos umas quatro delas.

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Circuito Lagoa Bonita

Assim como o circuito da Lagoa Azul, a Lagoa Bonita já deixou de ser a melhor do passeio. É esse o circuito descrito no começo do nosso post. É preciso percorrer 18 km, depois da balsa, para chegar lá. Há ainda uma subida em areia fofa de 40 metros até o ponto mais alto. O passeio começará lá de cima e seguirá, a pé, por umas 10 lagoas, das quais você para em quatro delas. Foi nesse trecho onde gravaram cenas da novela O Clone, da década de 2000. Quando visitamos, a Lagoa Bonita estava quase seca. A diferença desse circuito para o anterior é também a profundidade menor das lagoas.

 

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Passeio Rio Preguiças

Nem tão divulgado quanto os circuitos dos Lençóis, mas com certeza igualmente interessante. O passeio pelo Rio Preguiças te apresenta a um Brasil diferente, no qual a vida segue na mansidão e a quase ausência de intervenção humana impressiona. São 40 km, saindo do centro de Barreirinhas, em direção à Praia de Caburé. No caminho, há paradas nos pequenos lençóis (Vassouras), no povoado de Mandacaru e por fim na praia. Ele sai em geral às 8h, com retorno à tarde e chegada às 16h.

Cada barco, do tipo voadeira, navega com uma média de 10 a 12 turistas. Eles saem praticamente juntos, mas mesmo em alta temporada você não se depara com aquela multidão de turistas.

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Rio Preguiças

Principal via de tráfego de barcos entre os povoados ao redor e Barreirinhas, o Rio Preguiças é ainda fonte de subsistência dos moradores da região. De cor forte e escura, ele é margeado por pousadas, hotéis e também muitas casas, algumas de luxo e outras de ribeirinhos. O Rio tem uma extensão de 120 km, desaguando em Atins – outro vilarejo que recebe o fluxo turísticos dos Lençóis. A lenda diz que recebeu esse nome em função da quantidade de preguiças que ficavam na vegetação das margens. Não chegamos a ver nenhuma para comprovar a veracidade da história, mas nos deparamos com uma rica flora de árvores que só costumamos saber o nome dos frutos e outras que nem sabíamos da existência.

Você conhece o buriti? E o bacuri? Já viu uma árvore de açaí? Tudo isso vai se apresentando ao longo do passeio, cujo guia dá detalhamentos sobre a frutificação delas. Um detalhe intrigante da viagem é o atalho que os barcos pegam, cavado com pás e inchadas pela população local há décadas, para facilitar o tráfego e a irrigação da plantação.

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Vassouras

A primeira parada do passeio é em Vassouras, um pequeno vilarejo ao lado dos pequenos lençóis. Com altura bem menor e menos exuberantes que as irmãs mais famosas, as dunas do local têm um desenho próprio e chegam a apresentar na alta temporada até lagoas. Como vai todo mundo ao mesmo tempo, estão sempre cheias de gente, sem aquele aspecto de vazio encontrado nos grandes lençóis.

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O atrativo de Vassouras é passeio para pegar turista: umas barracas vendendo artesanato local, comida e banana. A existência desse último item é avisada ainda no barco e tem a finalidade de servir de atração para os macacos. Você compra um potinho com rodelas de banana para alimentar os bichos nas árvores ao fundo. Os barcos passam cerca de 30 a 40 minutos no local. O suficiente.

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Mandacaru

A porta de entrada do povoado de Mandacaru é uma barraca gigante ao lado do pier, onde são vendidas dezenas de cachaças de sabor mesclado de frutas. Em seguida, poucos passos e você já andou toda a parte turística da vila de pescadores. A fonte de renda é praticamente das visitas e do pescado.

Mandacaru é singular por dois motivos. O primeiro deles é o Farol das Preguiças, construído em 1940 e com 35 metros de altura. Ou como gosta de alardear o guia: 160 degraus. Haja perna, mas a vista recompensa o esforço. Lá de cima é possível ver os lençóis, o rio e o mar.

Procure não perder tempo visitando as barracas de artesanato, deixe tudo para o fim ou terás que enfrentar a fila no sol latente para subir as escadarias. Na volta, não deixe de tomar os sorvetes típicos da região. O de buriti e o de bacuri. O primeiro tem mais gosto de açaí e um leve amargor. O segundo é como uma mistura de leite com mangaba e foi mais do nosso agrado.

 

 

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Praia de Caburé

Última e mais longa parada do passeio, a Praia de Caburé fica quase na divisa com Atins. É uma estreita faixa de areia, entre o mar e o rio, quase sem habitação. Há uma dezena de palhoças, cujo atrativo é a comida barata e o redário. Todas elas convidando ao cochilo pós-almoço. É provável que o guia te direcione ao restaurante amigo, mas não hesite em procurar outro. Só tome cuidado com conferir o cardápio e ver se aceita cartão. Nem todos eles têm máquina e, quando há, o sinal é péssimo.

A praia é cheia de segredos. Logo de cara uma antiga pousada fechada de portas e janelas coloridas encanta. Dá para passar uns minutos olhando para o cenário e imaginando como seria se hospedar naquele lugar. O verdadeiro sentido de fugir do mundo. Outra forma de desbravar a praia é alugar um quadriciclo por R$ 100 a hora, para duas pessoas. Dá e sobra. Você consegue percorrer toda a comprida faixa de areia e acessar lugares em que só haverá o barulho do mar de ruído. Não se preocupe, os donos dos automóveis explicam como manejar o veículo. Em minutos, dá para “pegar a manhã”. O único cuidado é com o retorno. Eles cobram por minuto. Exato, por minuto, o atraso.

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Quando ir

Você pode visitar os Lençóis o ano inteiro, mas a melhor experiência é durante o período de cheia. É quando as dunas estarão divididas pelas lagoas. No Maranhão, chove entre fevereiro e maio. Entre maio e agosto, as lagoas estão cheias e a paisagem é incrível. Às vezes, dependendo da intensidade das precipitações, as lagoas permanecem até setembro.

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Onde ficar

Sabe quando a realidade é muito melhor que a ficção? Foi assim que nos sentimos ao chegar à Pousada Murici. Havíamos reservado o lugar pelo Booking, logo depois de fecharmos a passagem. Era uma das poucas hospedagens restantes para o período. Chegamos à pousada já à noite e, logo de pronto, uma supresa. Elas nos ofereceram uma cortesia e um upgrade para a suíte master.

Veja aqui as opções para se hospedar em Barreirinhas

A pousada é um charme só. Bem colorida, com várias referências às tradições locais e ambientes aconchegantes. O quarto era imenso e bem limpo. Do lado de fora, um redário, área para descanso no corredor, uma área de jogos ao ar livre e piscina. A melhor parte, porém, está lá trás, meio escondidinha. É onde funciona o restaurante à noite e é servido o café da manhã. De frente para o Rio Preguiças, que pode ser acessado pelo pier e que, em determinadas horas do dia, forma uma “praia” à beira da pousada. É massa!

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O que levar

Como avisamos antes, conhecer os Lençóis requer disposição. Por isso, recomendamos roupas leves e chinelos para fazer os passeios pelas dunas. Muito protetor solar, pois não há pontos de parada com sombras. E um chapéu, bem preso à cabeça, pois o vento é forte e o risco de o acessório ficar pelo caminho é grande. Leve uma pequena bolsa com água e alguma comida. Também não há onde comprar nas proximidades (exceto na descida da Lagoa Bonita, mas é apenas castanha, água, refrigerante e tapioca). Os passeios são pagos na agência, com antecedência, então não precisa se preocupar em levar muito dinheiro para os passeios.

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Quanto gastamos

No total, somando desde a passagem, a hospedagem, os passeios e tudo o que consumimos por lá, a viagem saiu por R$3,123.89, para os dois.

ATENÇÃO!

Estaremos contando detalhes dessa aventura no Diario de Pernambuco deste fim de semana!

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5 comentários sobre “O paraíso chamado Lençóis Maranhenses

  1. Gabriel disse:

    NAO PEGUE A VAN do Denilson!!
    Combinei com ele $60 saindo do aeroporto de madrugada( 03hs) e chegando em barreirinhas as 07hs.
    Peguei de madrugada saindo do aeroporto. Ele até buscou no horário, mas dai nos levou para um posto, esperamos uns 15min apareceu uma van.
    Fomos na frente, quase nos chocamos com um burro na estrada. Deixei a mochila no chão da van próximo dos meus pés, quando desci da van (sem ngn ter explicado isso) o chao estava ensopado devido agua do ar condicionado quebrado), molhando ipad, celular e afins.
    Por volta das 05:30 a van te deixa em um povoado (Sangue) o motorista te cobra o valor e diz que outra van vai te levar pra barreirinhas e adivinha: aparece um pau-de-arara. Fui lá sentado numa ripa de madeira por mais 50km de madrugada!

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